* Meu avô morreu há quatro anos. Todas as noites de Natal eram na casa dele, que fica a alguns passos da casa dos meus pais. É só atravessar a rua. A casa é bem grande e abrigou, além dos meus avós, os cinco filhos do casal e mais uma parentada flutuante.
* Era uma casa com portas verdes gigantes e sem maçanetas, com quadros tortos (e cheios de cupim) dos netos espalhados pelas paredes. Além das fotos da prole, enfeitavam a sala a cristaleira, um relógio cuco, uma cadeira de balanço, aquelas lembranças de viagem cafonas que os netos traziam e o quadro de uma menina desconhecida que ficou pendurado ali por uns 60 anos:
* O Natal por lá era sempre cheio e animado, mas desde que ele morreu, deixou de ser. Não de ser animado, deixou de ser Natal mesmo. A casa do vô era a única coisa que mantinha aquele Natal funcionando.
* Finalmente os filhos venderam a casa do vô. Ela tinha ficado vazia esses anos todos e só era habitada pelo estoque de fitas VHS da extinta locadora de um tio:
* Não conheci os novos donos, mas vi que eles têm um vira-lata preto. E um fusca. E percebi que eles não abrem muito as janelas. Como a casa é muito velha, já devem ter reformado tudo lá dentro. Mas, esqueceram do portão.
* O portão da casa do Vô fazia um barulho tão marcante, que quando rangia a gente sabia exatamente quantos minutos ele levaria para chegar a nossa casa. Também dava pra saber a hora exata em que ele saía para comprar pão ou para tomar sol na loja vizinha. Nem ladrão se atrevia a mexer naquele portão com um alarme natural de ferrugem.
* Pois os vizinhos se esqueceram de trocar o portão! E eu passei uma semana inteira na casa dos pais ouvindo aquele barulho familiar. E toda vez que ele rangia (como não fazia há quatro anos), eu sentia uma pontada horrorosa por dentro. Porque depois daqueles contados minutos, ninguém aparecia. Nem tio, nem vó, nem vô.
* O Natal ficou muito pequeno.
8 comentários:
Ai Bean. Abracinhos ___O___ :~
ai.
isso acontece tb aqui em casa. minha avó morreu em 2004 e de lá pra cá o natal nunca mais foi o mesmo. da uma saudadezinha...
saudades.....saudades........
tenho-as muitas........
gosto muito quando vc escreve das suas coisas, das suas lembranças, saudades, cabelo....
bjos
o mesmo aconteceu na minha familia. meu avo morreu ha 10 (!) anos e desde entao o Natal foi ficando cada vez menor, e a minha avo menos empolgada. a familia ja nao faz questao de se reunir, e aquele Natalzao barulhento, com as criancinhas correndo e os adultos dando risada ficou so na memoria, e eu mooooorro de saudade.
por outro lado, conheci o Natal gringo, que e uma coisa alucinada, exagerada, cheio de presentes mil e comida e gente e bebida e festa (bem mais que ai no Brasil, acredite se quiser).
um dia eu ainda junto os dois :)
Thais>> Parece que Natal só faz sentido com mta gente, né? Tenho familia aí nos EUA e passei um Natal gelado quando era mais nova. Foi uma festona como vc disse, os "agregados" não paravam de chegar! Mas lembro que achei a comida super diferente (gostei!) e quase vomitei uma sobremesa de root beer com sorvete de menta. HAHAHA
*kids*
Ficamos bastante comovidos com o seu post, especialmente o Juene. O Natal ficou muito pequeno mesmo, é verdade. E lendo isso tudo um filme passou pela minha cabeça, tive várias lembranças e uma dorzinha triste surgiu com elas. Tenho saudade de tudo aquilo. Beijo. =/
Kiko >> Também lembro de tudo! E vários desses Natais estão filmados, mas não tenho coragem de rever as fitas. Im dia a gente podia rever, né? =)
obrigada pelo comentário, Kiko, manda um beijo pro Juene.
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